Em uma ponta, estou eu. Pés no chão, fincados e atolados na lama da falsa segurança da solidão, de todos os sonhos frustados, da mágoa, da tristeza, da saudade, da inglória incompetência de outros amores dolorosamente acabados. Na outra ponta, um incrível e sedutor cenário desconhecido a me chamar, envolver, provocar. Sinto um cheiro delicioso vindo de lá… Ouço belas melodias ao longe, risadas, gargalhadas até. Vejo relances de cores que nunca vi antes, grandiosas e diferentes. Tenho enorme vontade de experimentar tudo que há lá. Mas há um espaço entre o amor e eu. Um abismo escuro, profundo, mas não tão largo… Apenas um pouco maior do que minha perna. Só preciso de um pouco de impulso para pular, para me atirar lá, lá onde é impossível não querer estar. Está tão perto… Só um pulo. Já me atirei outras vezes, já cheguei até mesmo a voar pra lá, tão leve estava. Talvez devesse tentar de novo… É só um pulo. Mas é tão difícil livrar-me da minha própria lama… Ela deixa meus pés imóveis, pesados, doloridos. É tão fácil achar que minha força não vai ser suficiente, que não vou conseguir pular e vou cair naquele abismo profundo de silêncio, escuridão e dor, e vou ficar caindo, caindo, caindo, até pousar em outra lama, ainda mais fétida e poderosa que a minha, e que dessa vez ela pode me enterrar até a cabeça. Então fico ali, parada, olhando, pressentindo, admirando aquilo que quero tanto ter e, embora esteja ao meu alcance, não posso me permitir tentar. Chegou a hora em que me senti incapaz de juntar meus próprios cacos, mesmo depois de já ter feito isso tantas vezes. São muitos, e tão pequenos, e tão cortantes, e tão pontudos. E é justamente nessa hora que aparece alguém do outro lado, na beiradinha. Já está lá, onde quero estar; não pode vir me buscar onde estou, que dali só eu mesma posso sair. Mas, de onde está, resolve olhar pra mim. Me olha direito, profundamente, entendendo, admirando; e vê além do que aparento ser – vê todo brilho que um dia eu tive, e que se escondeu em algum lugar. Me olha e fala comigo mansamente. Assustada, finjo que não ouço, fecho os olhos, me coloco em silêncio absoluto. Mas ele não desiste. Ele sabe esperar… E espera. Enquanto espera, vai me encantando, dando de graça aquilo que sempre cobraram de mim. Vai me fazendo limpar os pés. Vai construindo intimidade sem me invadir. Vai me dando roupas mais leves pra vestir. Vai me enchendo de sorrisos, e quando percebo e tenho vontade de fugir, ele me distrai, como se faz com uma criança medrosa. Vai cuidando de mim, bem devagar. Vai me fazendo deixar as coisas tristes para trás, e me fazendo entender que para pular o abismo do amor, é preciso mais que coragem… É preciso fé. E muita fé. Ele esteve lá, e estendeu a mão por muito, muito tempo, sorrindo docemente pra mim, me chamando pra viver aquilo tudo que um dia eu esqueci de sonhar. Há um espaço entre o amor e eu, e para pulá-lo é preciso coragem, e fé. Fica mais fácil pular quando tem alguém do outro lado, com os braços abertos, dizendo vem, que eu te seguro… Vem, que eu te amparo… Vem, que eu te empresto o que te falta até você ter de novo… Vem, que você consegue. E eu vou…(MAFALDA CRESCIDA)
Há pessoas que choram por saber que as rosas teem espinho, Há outras que sorriem por saber que os espinhos teem rosas! (Machado de Assis)
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Amante.
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