
Fugir pode ser, sim, um ato de covardia, de preguiça, de egoísmo e imaturidade.
Mas fugir também pode ser um ato de rebeldia, de transgressão, de meninice.
A gente às vezes pode fugir de uma situação ruim, por cuidado, pra se
preservar. Pode também fugir de algo que deseja muito, mas sabe que não
devia desejar… E por isso, por cautela, por precaução… Foge.
A gente pode fugir de pessoas que não suporta mais, por fazerem mal. E
pode fugir também por precisar de um tempo, mesmo daqueles que você ama
muito. A gente pode fugir pra poder sentir falta, e pra entender, à
distância, o habitual, o vai-e-vem de sempre.
A gente pode fugir de situações rotineiras, do cotidiano de mesmice,
das coisas que nunca mudam. Se elas não mudam, a gente muda e foge um
pouco, pra descansar, pra ganhar novas forças e depois voltar, trazendo
um toque aqui e ali de mudança, pois quando a gente muda, não tem jeito…
Tudo que cerca muda com a gente.
A gente pode fugir um pouco pra se divertir, pra desencanar, ver
novas coisas, novas paisagens, novos ares, respirar de um outro jeito,
dormir e acordar de outro jeito, comer de um outro jeito, conversar de
um outro jeito.
A gente pode fugir pra se esconder, quando faz a óbvia constatação
que existem coisas e pessoas muito mais fortes que nós, e que contra o
que a gente não pode, a gente ignora, deixa pra lá até poder, ou deixar
de fazer sentido.
A gente pode fugir sozinha ou acompanhada. Deixando aviso ou sumindo. Pra sempre ou por um tempo.
A gente pode fugir pra correr de uma coisa, sem perceber que
inevitavelmente estamos correndo para outra, e isso não é ruim, muito
pelo contrário… Pode ser ótimo.
A gente pode fugir de armadilhas que a gente mesmo arma, e que
magoam, machucam, destróem, e lá, no canto de fuga, a gente coloca tudo
no lugar, cola todos os cacos, e volta mais forte.
A gente pode fugir, sim. E muitas vezes, a gente deve fugir.
O dia-a-dia às vezes espreme a gente, sem que a gente perceba, e de
repente, a gente está lá, espremida, comprimida, compactada, juntada.
Fugindo, a gente pode finalmente espreguiçar, abrir os braços, abrir os
olhos, abrir o coração, e voltar mais tranquila, pronta pra outra.
Fugir pode ser vital. E uma delícia.
Fui!
(http://blog.mafaldacrescida.com.br/)
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